Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2017-12-14
Resumo
O presente estudo trata-se de um relato de experiência, que objetiva demonstrar e analisar a utilização das metodologias ativas na construção de um guia de vigilância do óbito, por causas externas, potencialmente relacionadas ao trabalho. A relevância deste estudo fica evidente, na medida em que se observa na prática de saúde, a necessidade de se planejar e construir produtos oriundos de conhecimentos coletivos que, indubitavelmente, favoreçam a participação de todos os envolvidos, como protagonistas e responsáveis pela criação de estratégias/instrumentos que serão utilizados para intervenção em sua própria realidade laboral. Nesse contexto salienta-se que, especificamente, no que tange a vigilância dos óbitos relacionados ao trabalho, as metodologias ativas configuraram-se como excelentes ferramentas, tendo em vista que muitos dos profissionais envolvidos já possuíam suas próprias estratégias de intervenção, contudo sem um consenso que estruturasse as estratégias de forma a torná-las coerentes e eficazes no alcance do desfecho: óbito decorrente de acidente de trabalho típico ou de percurso. A opção na utilização dessas metodologias como base de fundamentação e orientação para construção do guia de vigilância, ocorreu lastreada no entendimento de que a metodologia ativa possibilita uma maior interação entre os participantes, bem como permite a participação coletiva de todos os envolvidos, de modo que todos possam contribuir na medida de suas potencialidades/habilidades e de forma equânime, com a formação do produto objetivado. Nesse sentido, faz-se precípuo esclarecer a compreensão que o grupo de trabalho (GT) possui a cerca da metodologia ativa, entendida como uma concepção educacional que reposiciona os envolvidos como agentes responsáveis pela condução do próprio processo de construção dos saberes. Constata-se, que a mesma é amplamente utilizada em processos educacionais e de trabalho, porque permite a participação, o exercício da autonomia, e o estímulo a critica e a reflexão. Destaca-se, que existem inúmeras vantagens na utilização dessas metodologias, que se estendem além dos ambientes educacionais alcançando os espaços de trabalho, elas são centradas no estimulo a colaboração e a parceria, no respeito às opiniões diversas, no exercício ao alcance do consenso, no fomento a construção de soluções em equipe, na legitimação do produto da construção coletiva como objeto de pertença, que será mais facilmente incorporado ao ambiente de trabalho para o qual foi pensado como nova tecnologia. Para elaboração do guia, foram seguidas as etapas: formação de um grupo de estudo composto por profissionais de saúde da área de saúde do trabalhador; planejamento estratégico situacional; construção do guia; construção do instrumento de investigação; e validação do guia e do instrumento. As metodologias ativas utilizadas para construção do guia foram: dinâmica para identificação de problemas; dinâmica para priorização de problemas (árvore de problemas); montagem de matriz decisórias (problema, valor, interesse, magnitude, vulnerabilidade e atribuição de nota de 0-10); matriz de mapeamento de atores sociais (ator social, valor e interesse); dinâmica para a construção da árvore explicativa (problema, causas, descritores, nós críticos e conseqüências); dinâmica para a construção das intervenções (plano de ações simplificado: local do problema, problema, nó crítico, resultado esperado, ações e atividades, responsáveis, parceiros/eventuais opositores, indicadores estatísticos/qualitativos para avaliação, recursos necessários e prazos); dinâmica para a construção de viabilidade para o plano de ação (ações conflitivas do plano, recursos necessários, recursos que temos e não temos, viabilidade, e estratégia para aumentar a viabilidade); dinâmica para a gestão do plano (ação em ordem de precedência, situação, resultados, dificuldades, e novas ações e/ou ajustes); construção da planilha orçamentária (ações, data inicial, data final, despesas de custeio, despesas de investimento e custo total). Após a construção do guia e do instrumento para investigação do óbito relacionado ao trabalho, criou-se novo GT com a integração de profissionais de saúde da Rede Nacional de Saúde do Trabalhador do Estado da Bahia (RENAST/BA), para revisar e ajustar o produto para validação. Em seguida, ocorreu a validação em oficinas baseadas em exposição dialogada, estudos de caso, e casos de óbitos para investigação prévia, com a participação de técnicos de saúde dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST) e técnicos de saúde da vigilância em saúde do Estado da Bahia. Concluiu-se, ao final de todo o processo de planejamento e construção do guia e do instrumento de investigação, que o uso das metodologias ativas possibilitou a identificação dos problemas, a problematização das situações com carência de intervenção e a produção coletiva e legitimada de documentos que serão utilizados pelos próprios atores sociais envolvidos, por fim, possibilitou a transformação dos conteúdos e do próprio processo de conhecimento no sentido da construção do saber significativo.