Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
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EDUCAÇÃO PERMANENTE NO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL: UMA OPÇÃO POLÍTICO- PEDAGÓGICA EM CONSTRUÇÃO
Última alteração: 2018-01-22
Resumo
O presente trabalho é fruto da dissertação de mestrado intitulada “Educação Permanente no Centro de Atenção Psicossocial: Uma opção político- pedagógica em construção”. O cuidado em saúde mental, com foco na integralidade na atenção psicossocial, há algum tempo tem levado esta pesquisadora a profundas reflexões e inquietações, tornando-se motivação para o presente estudo. Defende-se que a EPS é uma poderosa estratégia para o desenvolvimento das ações de educação em saúde no âmbito do SUS. Pela experiência profissional no cotidiano do CAPS, identificou-se um espaço fecundo para a educação permanente, pois esta temática pouco era pensada ou considerada nos discursos dos trabalhadores e gestores. Objetivou-se analisar a EPS e sua relação com o desenvolvimento da integralidade do cuidado no Centro de Atenção Psicossocial, sob a perspectiva dos trabalhadores. Trata-se de uma pesquisa descritiva e analítica de abordagem qualitativa. O cenário eleito foi o CAPS de Crateús-CE. Portanto é necessário descrever-se algumas peculiaridades que caracterizam essa locorregião e determinam as relações sociais e econômicas e, consequentemente, as condições de saúde dos usuários do SUS. O município de Crateús está localizado no Centro-Oeste, trezentos e cinquenta e três quilômetros (353 km) da capital Cearense, com população de 74.271 habitantes. É uma cidade pólo que compõe a 15ª Célula Regional de Saúde (CRES), com população predominantemente rural e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,644. É a décima terceira cidade mais populosa do estado do Ceará. O Centro de Atenção Psicossocial Dr. Abdoral Machado, está localizado à Rua Auton Aragão, S/N, bairro São Vicente, foi inaugurado em 1996 e reinaugurado com o perfil de ambiência, contemplado em 2011. Está inserido na modalidade CPAS I. O público alvo são os usuários da 15ª CRES, com média de 4.200 (Quatro mil e duzentos) usuários cadastrados e uma equipe multiprofissional para o atendimento, sendo referência para onze municípios. A coleta de dados foi realizada no período de Dezembro/2015 a Janeiro/ 2016. Optou-se pelo uso da entrevista semiestruturada. Os participantes da pesquisa foram os integrantes da equipe multiprofissional, totalizando 18 trabalhadores de saúde (profissionais de nível superior, médio e os residentes em Saúde Mental). Foram respeitados os princípios éticos recomendados pela resolução 466/ 12 do CONEP (Comissão Nacional de Ética na Pesquisa). Os dados obtidos foram analisados e interpretados utilizando-se o método de análise temática e categorização das falas. Todas as informações foram consolidadas mediante as atividades realizadas e registradas no diário de campo. Foram elaboradas as seguintes categorias: Concepções e ações de EPS no CAPS; Humanização e Integralidade do cuidado, redesenhando a história; e Os Desafios e possibilidades da EPS no CAPS. O presente estudo contou com a participação de 18 (dezoito) profissionais de saúde, sendo que 61,11% eram profissionais do sexo feminino e 38,89% do sexo masculino. A idade dos profissionais variou entre 25 a 56 anos, predominantemente adulta. Quanto à escolaridade, essa está associada à função que o profissional exerce na equipe do CAPS. Os dados apontam que 55,56% dos profissionais possuem nível superior, 44,44% representam o ensino médio, e salienta-se que, no período da coleta dos dados, alguns profissionais expuseram que estavam ingressando em cursos de nível superior. Indagou-se sobre o tempo de atuação na instituição e encontrou-se o seguinte: 40% estão na instituição há mais de 03 anos, 20% entre 04 a 05 anos e 10% há mais de 05 anos. Quanto à qualificação profissional para suporte na atuação no cenário da atenção psicossocial, conforme os dados encontrados, apenas 3% dos profissionais sinalizaram participação em curso introdutório para atuação na Atenção Psicossocial e 97% relataram que não conheciam a rotina do CAPS, pois pertenciam a outros serviços de saúde e, por necessidades administrativas, foram lotados no CAPS. Em relação à Educação Permanente na Atenção Psicossocial no município de Crateús, considera-se com base nos achados dessa pesquisa que essa se iniciou em 2010, conforme o Plano Municipal de Saúde; porém, os registros nos livros de ata e arquivos datam de 03/2011, quando aconteceu o primeiro fórum sobre a temática no Centro de Atenção Psicossocial. Buscou-se elucidar das falas, os sentimentos, vivências e experiências construídas no cenário dos trabalhadores sobre as concepções e ações de educação permanente no CAPS, evidenciando a necessidade de maiores investimentos na área. Observou-se que a EPS está se desenhando pela vertente política e crítica dos profissionais e houve convergência entre os participantes do estudo, que consideraram ser educação permanente uma política importante, que promove a reflexão crítica, ao mesmo tempo em que divergiram de sua aplicação, ao se referirem às práticas continuadas na residência multiprofissional em saúde coletiva, ensejando que a saúde mental “precisa sair do papel”. Quanto às ações de educação permanente no CAPS, a participação dos trabalhadores na análise dos processos de trabalho, de acordo com a proposta do quadrilátero da EPS, é avaliada pelos participantes de forma divergente desde a periodicidade dos eventos de educação permanente e a relevância dos temas abordados para a aplicação no cenário profissional. Sabe-se que a Educação Permanente em Saúde já acontece na instituição; porém, a equipe precisa apoderar-se da grandeza dessa estratégia, como instrumento de fortalecimento do trabalhador e mobilização para a efetivação da Política Nacional de Humanização. Urge que a compreensão da política da EPS seja prioridade no plano de governo municipal, pois essa é poderosa estratégia para a melhoria do serviço e da qualidade da atenção e, para tanto, precisa-se tanto do planejamento articulado pela equipe como do seu protagonismo. Dos dados colhidos e apreciados, identificam-se o entusiasmo, carinho e otimismo pela saúde mental. A subjetividade é exaurida através de suas falas, não negando o sentimento de impotência e angústia pelos desafios experimentados no cotidiano e das limitações da rede de assistência em saúde mental. Portanto, as falas indicam que a Política de Educação Permanente em Saúde (EPS) tem elementos para aprimorar o processo de trabalho, uma vez que a formação sugerida parte das necessidades sentidas pelos sujeitos. Assim, partindo das considerações teóricas expressas e com o propósito de explicitar o pressuposto que motivou a pesquisa, evidencia-se a ressignificação das práticas da EPS no CAPS de Crateús, produzindo novos conceitos e ações e exercendo, assim, o papel político e pedagógico em construção.
Palavras-chave
Humanização da assistência. Integralidade em saúde. Educação Permanente em Saúde. Centro de Atenção Psicossocial.