Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2017-12-09
Resumo
Apresentação: A violência contra criança e o adolescente constitui-se grave problema a vida humana, atingindo proporções que extrapolam as esferas individuais e familiares, tornando-se também uma questão de saúde pública à medida que, quando cometida na infância, impacta negativamente o desenvolvimento, gerando danos que podem repercutir por toda vida. A OMS classifica em quatro tipos a violência contra criança: abuso físico, sexual, emocional/psicológico ou negligência. De acordo com um estudo feito por Nunes e colaboradores em 2016 sobre o cenário brasileiro da violência infantojuvenil, temos que a Negligência foi a forma de violência predominante em 50% dos casos registrados, seguida pela violência física, 33,3% sendo que o principal agressor era pertencente ao núcleo familiar da criança/adolescente, 75% dos casos. Tendo em vista a emergência em se combater qualquer abuso cometido contra criança e o adolescente, no Brasil, na década de 90, criou-se a Lei nº 8.069 intitulada “Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que assim dispõe no art. 4º “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.” Compreende-se que a negligência é uma forma de maus tratos em que o responsável pelo menor lhe falta com cuidados essenciais para seu desenvolvimento, bem estar e saúde, resultando em prejuízos. Nessa lógica, o profissional da saúde tem papel fundamental no enfrentamento e manejo da violência, identificando sinais resultantes dos abusos infantis. De acordo com a literatura, as agressões se manifestam principalmente em região orofacial: face, boca, cabeça e pescoço posicionando em destaque o Cirurgião-Dentista. Este trabalho evidencia ações e estratégias de educação em saúde bucal utilizadas no combate a negligência odontológica. Desenvolvimento: As atividades de educação em saúde bucal ocorreram em parceria com o programa ProPaz Integrado, localizado nas dependências da Santa Casa de Misericórdia, na cidade de Belém/PA, Brasil. Este foi criado em 2004, pelo governo do estado com o objetivo de promover a cultura da paz entre os jovens, alinhando e integrando políticas voltadas para a infância e juventude. As ações e estratégias de educação em saúde foram elaboradas baseadas na literatura e na faixa etária do menor a ser atendido. Assim, as atividades lúdicas, brincadeiras e jogos foram voltados para crianças, rodas de conversa para adolescentes e escovação supervisionada para ambos. Foram elaborados também materiais ilustrativos e educativos como cartilhas, banners, folders com temas pertinentes ao universo odontológico - higiene oral, técnica de escovação, uso do fio dental, alimentação saudável. Foram utilizados metodologias ativas para incentivar e estimular a criança/adolescente em ser o protagonista no seu desenvolvimento e aprendizagem, com uma abordagem dinâmica que facilitasse a interação e participação do jovem no processo de solidificação do conhecimento e no autocuidado em saúde. Foi realizado exame clínico intra e extra oral para diagnosticar os agravos bucais decorrentes da negligência. Os dados coletados foram anotados em uma ficha clínica, na qual também continha informações socioeconômicas, localização da lesão, moradia e o tipo de violência sofrida. Resultados e Discussão: Foram examinadas 33 crianças e adolescentes no período entre abril e agosto de 2017, atendidas no ProPaz Santa Casa, em situação de violência. O exame clínico demonstrou que em 78% dos casos, a cárie dentária e doença periodontal foram os agravos bucais predominantes, associados a higiene oral deficiente e alimentação inadequada. O CPO-D médio foi 3,9 e variou de 0 a 10. Os menores estavam com faixa etária entre 05 - 14 anos; No ano de 2016, no período entre abril - dezembro foram examinadas e encaminhadas para tratamento odontológico no Hospital Universitário João de Barros Barreto, 62 crianças e adolescentes com faixa etária entre 04 - 16 anos, entretanto, apenas 11% aderiram e concluíram seu tratamento odontológico. O encaminhamento e as instruções foram fornecidas aos responsáveis do menor, demonstrando que a baixa adesão ao tratamento, reforçando ainda mais a situação de negligência odontológica. A não adesão ao tratamento, quando em andamento resulta imediatamente em prejuízo à saúde bucal da criança. A negligência é um conflito difícil de se solucionar, pois a falta de idade e maturidade das crianças menores em realizar a sua higiene e cuidados pessoais, a falta de coordenação motora em realizar à escovação dos dentes agravam esta situação. Observa-se que elas estão inseridas em um ambiente de maus tratos, onde são menosprezadas às suas necessidades, resultando em baixa autoestima e depressão como forma de reagir ao conflito. Considerações finais: Considerando o fato de que mesmo com aumento de cobertura odontológica no SUS e a ampliação da oferta de serviços odontológicos no Brasil, como a implantação dos Centros de Especialidades Odontológicas (CEO - 03/2006) e criação de Unidades de Referência Especializadas em atendimento Materno-infantil, ainda não se percebe redução dos agravos bucais decorrentes, sobretudo, da negligência dos responsáveis pelas crianças. Não há uma articulação entre estes setores e os locais que prestam atendimento ao menor em situação de violência. É necessário abordagem e tratamento dos pacientes em rede multiprofissional. Portanto, a educação em saúde bucal baseado em promoção e qualidade de vida é uma estratégia de enfrentamento a ser fortalecida na infância, visto o grande potencial de aprendizagem, incorporação de conhecimento, de hábitos saudáveis, redução do índice de cárie e placa dental, além do empoderamento e autonomia para que o menor se torne agente ativo em sua transformação, melhorando sua percepção e autocuidado em saúde.