Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2022-01-26
Resumo
APRESENTAÇÃO: Em março de 2020 a Organização Mundial de Saúde, anunciou o estado de emergência caracterizado como pandemia da COVID-19, doença causada pelo vírus Sars-Cov-2. A pessoa acometida pela doença pode desenvolver desde uma síndrome gripal até infecção respiratória aguda grave, que em muitos casos tem como desfecho o óbito. A transmissão pode ocorrer através de contato direto com gotículas e aerossóis de indivíduos contaminados, com mucosa oral, nasal e dos olhos. As medidas de proteção adotadas desde o início são: distanciamento social, uso de máscaras e higienização das mãos. Mais recentemente a vacinação foi adotada e está sendo aplicada em toda a população maior de 12 anos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em todo Brasil. A pandemia instituiu sobre um sistema de saúde, que enfrenta um problema crônico de sobrecarga, uma grande pressão, não apenas pelo aumento dos números de atendimentos de casos, como também internações em leito de terapia intensiva e óbitos. Com isso, tornou-se necessário agilidade para adaptação e reestruturação do trabalho das equipes da vigilância epidemiológica para captação, investigação e processamento dos dados em tempo oportuno. Os sistemas de informação têm papel fundamental na produção das informações em saúde e são utilizados para tomada de decisão e gestão das políticas de enfrentamento de doenças e agravos, bem como, prevenção e promoção das condições de vida e saúde das populações atingidas. Por outro lado, as tecnologias emergentes e as possibilidades de automação nos processos de trabalho, trazem benefícios para saúde pública e coletiva, pois os dados desagregados permitem planejar ações que reduzam as desigualdades em saúde nos diferentes níveis de atuação e facilitam a implementação de estratégias para abordá-los. Este trabalho objetiva relatar a atuação da equipe de vigilância epidemiológica na captação e investigação dos óbitos por COVID-19 no estado da Bahia, no período de março a junho de 2020. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Estudo de natureza qualitativa e exploratória, definindo-se por relato de experiência de profissionais da área da saúde, que atuaram na equipe da Diretoria de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual de Saúde do Estado da Bahia (SESAB). A abordagem metodológica utilizada dá subsídio para observação e compreensão dos fatores associados ao fenômeno estudado, adequando a construção da vivência para realidade. A equipe foi composta por sanitaristas da área da saúde, entre os quais, em sua maioria, da enfermagem e medicina. A construção foi baseada em três momentos: estudo dos sistemas utilizados no serviço, produção de um questionário capaz de gerar um banco de dados estatísticos e análise das informações produzidas para elaboração do boletim epidemiológico. Inicialmente as vigilâncias dos municípios realizavam a notificação dos óbitos através do e-mail utilizado pelo Centro de Informações Estratégicas em Saúde da Bahia (CIEVS-BA), a informação era produzida de maneira artesanal, o que demandava agilidade desde a captação, investigação e publicação dos relatórios de óbito, outros sistemas ministeriais eram utilizados para cruzamento das informações, a exemplo deles: o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), Sistema de Notificação do Ministério da Saúde (eSUS-VE), Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL) e o Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe). O aumento exponencial do número de óbitos, devido ao agravamento e avanço da pandemia, impôs às equipes a necessidade de criação de um instrumento que viabilizasse a notificação do óbito em tempo oportuno. Depois de estudos e diálogo com profissionais de outros estados, foi produzido a ferramenta de coleta de dados através do formulário eletrônico do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), o FormSUS, o qual possibilitou a captação das informações em período de tempo menor e de forma mais ágil. Inicialmente foi utilizado para monitoramento dos casos hospitalares e posteriormente apenas para informações de óbito. A princípio foram estudadas as variáveis presentes nos sistemas oficiais, mencionados acima, para criar os campos que dialogassem com o que já estava sendo utilizado. Foram criadas as variáveis qualitativas: data da atualização, número do óbito, número da declaração de óbito, data do óbito, nome, nome da mãe, data de nascimento, idade, sexo, raça/cor, profissional de saúde, informações de residências, informações de infecção, informações ocorrência, estabelecimento de ocorrência, informações sobre comorbidades, informações clínicas, situação do caso, laudo covid e observações. Além do formulário, foi elaborado um manual que auxiliava o preenchimento da ferramenta, bem como, utilizado suporte telefônico para sanar dúvidas durante a implementação do novo instrumento. Em junho de 2020 a SESAB publica portaria de nº 233, tornando obrigatório a utilização dessa ferramenta pelas unidades de saúde públicas e privadas no âmbito estadual, para registro dos óbitos associados a COVID-19, respeitando o prazo de 24 horas após a sua ocorrência. RESULTADOS: Uma pergunta importante direciona o processo: por que os sistemas de informação em saúde são fundamentais para responder à pandemia? Os sistemas de informação cumprem papel crucial no gerenciamento dos dados necessários para tomada de decisão, como também dispõe de evidências para produção das informações em saúde, embasadas em produções científicas, o que permite melhor elaboração das ações de saúde. O FormSUS viabilizou a agilidade na investigação dos óbitos em menor tempo, desde a sua captação, até a publicação das informações em instrumento oficial. Importante sinalizar que o papel dos profissionais inseridos na rotina do serviço durante a pandemia, contou com o amadurecimento em curto prazo das estratégias de pesquisa-ação para adequação do processo de trabalho, mediante crise de saúde pública e mobilização do perfil crítico e interventor na produção de tecnologias da informação para melhoramento do ambiente de trabalho e qualidade das informações produzidas. Estabelecer e/ou fortalecer os mecanismos multissetoriais de maneira estratégica, permitiram a definição de um marco no planejamento estratégico das equipes de saúde, responsáveis pela gestão da informação. Pois através do formulário foi possível ter intercâmbio imediato, ágil e coordenados das informações, tornando possível a priorização do acesso e resposta, sobretudo a população mais vulnerável ao agravo. Bem como, dispor de infraestrutura tecnológica adequada ao momento sanitário, que possibilitou segurança das informações produzidas, durante a coleta e análise de dados. A partir desse pensamento, também é importante frisar que a incorporação de inovação no ambiente de trabalho, faz parte do constructo de formação dos profissionais para atuar nas vigilâncias em saúde e nos demais pontos da rede de atenção à saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A pandemia da COVID-19 reforça a importância dos dados qualificados em saúde. As informações produzidas desde a coleta até sua publicação tem como objetivo gerar análises para diagnosticar a situação de saúde das populações e auxiliar o processo de produção das políticas públicas. Porém, ainda é preciso avançar no fortalecimento da produção de informações de saúde não só no Brasil, como no mundo, pois a pandemia escancarou fragilidades associadas aos sistemas de informação. É preciso que haja inclusão da pauta como prioridade econômica no investimento no campo da informação, que torne possível uma melhor coleta e monitoramento do que é produzido. Os sistemas de informação do SUS são descentralizados e autônomos, porém com vários sistemas, muitas vezes não é possível integralizar as informações. Com isso, concluímos que a criação do FormSUS foi um avanço importante e com muitos ganhos, mas ainda há muito do que se discutir e alcançar.