Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Profissionais de saúde e a psoríase: compreensão sobre o autocuidado e a importância da Educação em Saúde
Valéria Leite Soares, Paula Soares Carvalho, Jefferson Polari de Souza Filho, Esther Bastos Palitot, Marcia Queiroz de Carvalho Gomes, Maria Júlia Guimarães Oliveira Soares

Última alteração: 2022-02-06

Resumo


Apresentação: as doenças crônicas dermatológicas afetam a qualidade de vida das pessoas acometidas e exigem cuidados nos aspectos físicos, psicológicos e sociais. Algumas dessas doenças, à exemplo da psoríase, produzem impacto no cotidiano e nas relações sociais das pessoas com a doença, onde o estigma e o preconceito são vivenciados. A psoríase é considerada pela Organização Mundial da Saúde como uma doença crônica que gera incapacidades e deformidades, imunomediada, inflamatória, com manifestações na pele e articulações. Além da complexidade da própria doença, ela é acompanhada por comorbidades tais como – artrite psoriásica, doença cardiovascular, diabetes, síndrome metabólica, sobrepeso / obesidade, doença inflamatória intestinal, depressão, uveíte, outras. Tabagismo e alcoolismo também são considerados como comorbidades.  Destarte, as pessoas acometidas necessitam realizar o autocuidado para prevenção e minimização dos estados agudos, proporcionar maior período de remissão da doença, promoção e atenção à saúde, melhora do aspecto psicossocial. Para a realização do autocuidado, as ações dos profissionais de saúde devem ser desenvolvidas com o objetivo de fornecer aos seus pacientes conhecimentos de práticas de cuidados específicos; conhecimentos sobre a doença e seus desdobramentos e comorbidades; conhecimento sobre o tratamento, na oferta de opções de escolhas; conhecimento sobre medicação em relação ao uso, seus efeitos favoráveis e indesejados e aquisição; hábitos de vida saudáveis dentre outros. Para tanto, esses profissionais precisam entender o paciente em seu contexto e em suas necessidades, compreender o que é autocuidado para assim apoia-los e orienta-los. O objetivo do estudo foi identificar qual a compreensão dos profissionais de saúde sobre o autocuidado de pessoas com psoríase. Desenvolvimento: trata-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva com profissionais de um Centro de Referência em Psoríase no Nordeste Brasileiro. Os dados foram coletados através da técnica de grupo focal, tratados e analisados pela análise de conteúdo. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Lauro Wanderley da Universidade Federal da Paraíba, sob o parecer n°4.658.508, respeitando os critérios da Resolução N°466/2012. Os critérios de inclusão foram: ter curso superior completo; ter experiência no atendimento a pacientes com psoríase em serviços especializados, com tempo mínimo de 6 meses, ou estar em processo de formação como residente em dermatologia no segundo ano (R2) ou no terceiro ano (R3). Foram excluídos profissionais de saúde que estão afastados do serviço, residentes em dermatologia no primeiro ano (R1), profissionais estagiários e com formação técnica e, que não apresentassem expertise em psoríase. Devido à condição sanitária frente à pandemia da COVID-19, a organização e encontros com as colaboradoras e os convites e o termo de esclarecimento para a realização do grupo focal foram realizados virtualmente e por correio eletrônico. O grupo aconteceu pela plataforma google meet®, em maio de 2021, com duração de cento e quinze minutos. Resultados: participaram do grupo focal 7 dos 10 profissionais de saúde do referido serviço, sendo 2 médicos dermatologistas, 1 enfermeira e 4 residentes em dermatologia, 6 mulheres e 1 homem com média de idade de 35,6 anos (mínima de 30 e máxima de 53 anos), tempo médio de atividade no serviço de 3,2 anos (tempo máximo de 9 anos e o mínimo de 1ano e 2 meses). Os participantes do grupo focal consideram o autocuidado em psoríase um conceito amplo, abrangente e de abordagem holística. Eles relacionam o autocuidado com a autoestima e o autoconceito, pois quando esses estão fragilizados o paciente perde o interesse em cuidar de si. Citam que para a realização do autocuidado o paciente precisa se auto perceber, se conhecer, se reconhecer e valorizar seus pontos positivos como também, reconhecer quais os aspectos precisam melhorar para favorecer sua saúde, minimizando os processos agudos da doença, contribuindo para a promoção da saúde e qualidade de vida.  Os participantes reconhecem que os sinais e sintomas da psoríase afetam as pessoas nos aspectos físico, psíquico e social. Eles relatam que o autocuidado neste contexto, necessita que o paciente tenha momentos no dia-a-dia para olhar para o próprio corpo e para a própria saúde, exigindo mudanças de rotina e de hábitos de vida. Os participantes acreditam que mudanças de hábitos de vida e de rotina são os aspectos mais difíceis no convencimento do paciente, pois estes desejam soluções rápidas e eficazes. Os participantes concordam que os pacientes com psoríase são emocionalmente muito sofridos, pois lidam com uma doença crônica, que muitas vezes é engatilhada pelo contexto social, pelo preconceito, pelo ambiente em que estão inseridos. Neste sentido conhecer o contexto do paciente, suas necessidades, fornecer apoio e conhecimento se faz necessário. Outro aspecto citado pelos participantes foi a atenção às prescrições de medicamentos, relacionando o poder aquisitivo de compra dos pacientes fragilizados economicamente, tendo que escolher entre comprar o remédio e a alimentação. Relatam que esses pacientes são orientados a pegar as medicações no Centro de Distribuição de Medicamentos do Estado, mas nem sempre conseguem. Neste sentido, eles são orientados como acionar a rede intersetorial para a aquisição. Os pacientes recebem orientações de como utilizar a rede pública de saúde, são encaminhados para a realização de exames, como também, nos casos de comorbidades, a procurarem outros serviços e especialistas médicos, psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, práticas integrativas e complementares, outros.   Considerações finais: os participantes do estudo apresentam boa compreensão sobre o autocuidado e o consideram fundamental na assistência e nos cuidados em psoríase. Eles referem sua importância principalmente pelas repercussões da doença no cotidiano, qualidade de vida e bem-estar das pessoas acometidas diante da complexidade da doença, que tem a pele como alvo principal. O autocuidado é considerado uma prática de cuidado que utiliza a educação em saúde como ferramenta fundamental, tanto em ações coletivas como individuais, com materiais físicos, audiovisuais ou mesmo sem materiais, através de palestras ou rodas de conversas. Nas consultas / atendimentos individuais, a educação em saúde se faz presente no diálogo entre os profissionais de saúde e o paciente e/ou cuidadores, orientando e fornecendo conhecimentos sobre a doença e suas características, sobre o tratamento e uso de medicações, hábitos saudáveis e o uso das redes de serviço e redes de apoio. Atividades de lazer, repouso e descanso, cuidados com a saúde mental e a participação social também fazem parte das orientações de autocuidado de pessoas com psoríase. Para que as orientações sejam efetivas, o acolhimento e vínculo entre os profissionais de saúde, pacientes e cuidadores devem acontecer, valorizando a empatia e confiança.