Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2022-02-08
Resumo
1 INTRODUÇÃO: A humanização em saúde é um tema que, atualmente, vem ganhando bastante espaço nas discussões e debates dentro do meio social geral, saindo de dentro dos muros das academias e dos grupos de movimentos sociais, onde antes ficavam mais restritos. Neste contexto, a Atenção Básica (AB) do Sistema Único de Saúde (SUS) é o local de primeiro contato dos cidadãos com o sistema público de saúde. É partir dele se pretende alcançar todos os residentes brasileiros, equipando-os com profissionais que possuam vínculo não apenas com a população, mas que também conheçam as necessidades individuais de seus territórios de atuação, a fim de proporcionar a promoção, proteção, tratamento e reabilitação em saúde da população. Assim, desde a criação do SUS, foi sendo observado as maneiras de se conduzir e executar os processos de trabalho e modos de gerir as atividades, ações e promoções em saúde. Pois, a partir do momento em que as políticas de saúde foram se intersetorializando e passando a ser de responsabilidade das três esferas governamentais, observaram-se várias lacunas e problemas antes negligenciados ou desconhecidos pelos gestores, acadêmicos e a população em geral. Isto posto, após muitos debates e lutas sociais, se idealizou a Política Nacional de Humanização (PNH), que possui objetivo de transformar os modelos técnico-assistenciais de saúde, embasados na medicalização e combate a doenças, proveniente do sistema biomédico ocidental. Esta política se mostra como uma importante ferramenta de modificação dos modos de gerir e cuidar, pois estabelece princípios, métodos e diretrizes que compõem fundamental instrumento para humanização na produção de saúde. Paralelo a ela, foi criada a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS), outro indispensável dispositivo que veio com intuito de se fomentar a educação em saúde nos processos de trabalho do cotidiano, pois o potencial de criação e aprendizado na realidade da execução do cuidado em saúde, é gigante, quando bem aproveitado. Logo, este projeto de intervenção possui o objetivo de Promover educação permanente em saúde para os profissionais das Unidades Básicas de Saúde da cidade de Acaraú/CE, por meio de oficinas, a fim de fomentar a sensibilização, reflexão e orientação acerca da importância na humanização dos processos de trabalho direcionados ao atendimento, acompanhamento e cuidado aos usuários da Estratégia Saúde da Família.
2 METODOLOGIA: O projeto será realizado por meio de duas oficinas, que terão duração de até 4 horas, cada, nas Unidades Básicas de Saúde. As ações serão descritas a seguir.
2.1. Oficina Resgate da Humanização dos Profissionais: Corresponde à uma Sala de sensações, onde serão utilizados sons, cheiros e outras experiências sensoriais que remetam às vivências dos profissionais de saúde no território, com o fim de resgatar sentimentos, pensamentos, sensações e lembranças, que posteriormente serão discutidas fazendo-se um elo com a Política Nacional de Humanização.
• Público alvo: Funcionários das UBSs;
• Pontos a serem explorados: Escuta (sons, vozes, músicas); Acolhimento; Humanização; Ambiência: sensibilidade (percursos com obstáculos, toques, gostos etc).
I Parte - Trajeto da Sala de Sensações: Incialmente, perguntar-se-á se alguém possui algum tipo de intolerância alimentar, doença, alergia ou restrição a algum tipo de alimento ou substância. Em seguida, cada pessoa deverá ficar descalça e será vendada, para, por fim, ser guiada, uma por uma, pelo trajeto, descrito a seguir:
01° Trajeto com areia, papéis, galhos e obstáculo (caixa de papelão) + queima de papel;
02° Voz gritando: “Oi, o que é ?!!!” / “Lá vem de novo!” / “O que foi dessa vez?” /“Não tem médico!!!” / “Não tem atendimento hoje!” / “Vai embora!” / “Não tem medicamento”;
03° Oferta do limão;
04° Aglomeração, empurra-empurra e barulho: “Onde está o termômetro?” / “Me dá o aparelho de pressão!” / “Termina logo esse curativo!!” / “Oh calor, muita gente” / “Não vejo a hora de ir pra casa” / “Ninguém quer trabalhar aqui” + som de bebê chorando e pessoas brigando;
05° 1 minuto de espera ao som de relógio (tic-tac);
06° Pessoa se senta em uma cadeira e põe os pés sobre um pano para limpá-los. Borrifa-se nos pés com um água e perfume de lavanda, limpando-os com outro pano em seguida. Ao mesmo tempo, será realizada uma massagem nos ombros + música relaxante com som água corrente ao fundo;
07° Voz calma: “Boa tarde, senhora! Como posso lhe ajudar? Tenha um bom atendimento!”;
08º Oferta do mel;
09° Voz: “A senhora pode me acompanhar? Vou te levar para um lugar agradável e seguro.”;
10° Recital de poema (Cuidado consigo) + Música “Daqui só se leva o amor” (Jota Quest);
11° Entrega do mimo (bombom de chocolate com cartão e frase).
Poema: “Cuidar de si mesmo não é besteira nem egoísmo, nem de longe é coisa de quem olha só pro próprio umbigo. Já se cuidou hoje? Já se olhou hoje? Respira fundo e sente os pés firmes no chão, aterrando toda angústia e se conectando com raízes profundas que te nutrem de esperança, sonhos e equilíbrio no coração. Só se constrói hábitos e rotina com paciência e disciplina, nada se transforma da noite pro dia nem na afobação. Saber-se vivo é a melhor sensação. Lembre que para tecer o futuro, o agora é nossa maior missão." Caroline Anice, com adaptação
II Parte – Roda com debate sobre experiência: Após todos passarem pela sala, será feita uma roda, onde se utilizará os seguintes pontos norteadoras para o debate: Relato e partilha de percepções; Relembrar os passos do trajeto; Fazer elo do trajeto aos princípios e diretrizes da PNH.
2.2. Oficina Promovendo a PNH no Dia-a-dia: Esta oficina será realizada com os profissionais que participaram da atividade anterior. Nela, iremos abordar de forma teórica a PNH, trazendo os princípios, métodos e diretrizes, por meio de atividades interativas e integradas, em forma de roda. Elencaremos exemplos práticos e situações-chave, fomentando o debate e a construção de ideias coletivas. Inicialmente, após uma breve introdução sobre a PNH, será entregue para alguns participantes, um pequeno cartaz escrito com os princípios, métodos e diretrizes da política. Então, em outros cartazes previamente preparados, estarão descritos o conceito de cada uma destas palavras. Após lermos, os profissionais terão que descobrir quais palavras encaixam em cada frase. Então, será discutido cada elemento. Em seguida, será proposto a divisão em três grupo, para a construção de cartazes, um elencando os pontos positivos (facilitadores/potencialidades) da humanização nas práticas em saúde, outro os pontos negativos (dificultadores/deficiências) e, o terceiro, propondo sugestões (possibilidades) para fomentar, realizar e concretizar práticas humanizadas nos ambientes de trabalho. Junto à produção desses cartazes, sugeriremos a discussão em grupo de situações vividas no cotidiano, referentes ao tema do grupo e, em após a apresentação dos cartazes, pediremos para trazerem à roda alguma dessas situações, podendo ser, inclusive, por meio de dramatização.
3 RESULTADOS ESPERADOS/ CONSIDERAÇÕES FINAIS: Assim como foi evidenciado em uma execução piloto deste projeto, pretende-se, a partir das atividades propostas, que os profissionais reflitam sobre suas práticas em saúde e busquem aperfeiçoar suas habilidades de comunicação interpessoal com os usuários e as demais equipes de saúde, bem como passem a executar o acolhimento e a escuta qualificada no seu dia-a-dia, a fim de humanizar seus processos de trabalho. Desta forma, espera-se que seja construída uma rede de conhecimento acerca dos princípios e diretrizes da PNH entre estes atores sociais.