Associação da Rede Unida, Encontro Sul 2019
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2019-07-29
Resumo
Eixo: movimentos de resistência
Júlia Savoia
Karina Torres
Thaís Alves
Ana Lúcia De Grandi
O Coletivo Bandeirantes é o encontro feminista das mulheres da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), que foi criado após um estupro ocorrido dentro da moradia estudantil do campus em 2018. A criação do grupo tem como intuito aconselhar, conversar e confortar as mulheres em situações diárias de vulnerabilidade do machismo, tornando-se a resistência feminina. O projeto é novo, sem vínculo com professores e/ou universidade, sendo formado apenas pelas alunas da UENP e ocorrendo normalmente duas vezes por mês, em rodas de conversa na própria universidade. Os temas são escolhidos pelas organizadoras com base nas sugestões das participantes. O primeiro encontro foi realizado no dia 11 de abril de 2019, e visava entender como a mulher dos cursos de Engenharia Agronômica, Ciências Biológicas, Enfermagem, Ciências da Computação, Sistema de Informação e Medicina Veterinária se sentia na sua área de ensino e era vista perante a universidade, com muitos relatos de diminuição através de desigualdade de gênero, sexualização, inferiorização por meio de colegas e professores, casos de assédio moral, físico e social dentro e fora do ambiente estudantil. O segundo encontro teve como tema "Gordofobia", discorrendo sobre os padrões corporais ao longo da história e a diferença entre ser gordo e ser doente. Foram abordados assuntos sobre como a pessoa obesa sofre represálias ao se vestir, com dificuldade de encontrar roupas e sapatos, e ao se despir. O ponto mais impactante foi sobre os ambientes e transportes, iniciando a pauta “feminismo gordo e a inserção da mulher gorda na sociedade”, discorrendo sobre como as mulheres são ensinadas desde cedo a competirem umas com as outras e, naturalmente, em muitos casos, elas passam a acreditar que criticar o corpo das outras é perfeitamente aceitável. A "gordofobia cordial" que é quando tratam a pessoa gorda como "fofinha", "cheinha", "rosto bonito", e a resistência social do gordo que inclui o relacionamento com outras pessoas gordas. O terceiro encontro foi sobre autoestima, buscando encontrar a beleza em cada uma das mulheres ali presentes, desejando que elas se vissem como únicas e especiais em todos os aspectos de beleza que o humano pode ter. Foi proposta uma dinâmica em grupo para falar uma qualidade da pessoa ao seu lado, gerando muitos sorrisos e um momento de empatia entre as participantes. O quarto e último encontro do semestre foi sobre feminismo negro, com relatos emocionantes sobre a infância racista que as mulheres ali presentes tiveram que enfrentar, mostrando que elas são oprimidas pelo preconceito, e exteriorizando que o feminismo não dá suporte em assegurar com segurança e conforto a mulher negra, e essas mulheres ainda relatam se sentir a margem da sociedade mesmo nesta causa que era para englobar a todas e diminuir as desigualdades. Esperamos que os encontros se tornem rotina na universidade, sendo um ambiente confortável para desabafos, conversas, elevação do amor-próprio e consciência do valor da mulher na sociedade, e que possamos progredir nos ensinamentos feministas se respeitando e praticando sonoridade.