Associação da Rede Unida, Encontro Sul 2019
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2019-07-29
Resumo
O tempo presente é de inúmeras e aceleradas mudanças, onde experenciamos diversas sensações, relações, prazeres, desconfortos. Nesse processo, muito se ganha e muito se perde no que se refere à vivência da humanidade. Processos de adoecimento são vitoriosamente interrompidos, o acesso a novas tecnologias, a serviços, alimentação adequada, embora sejam elementos que se consolidam de forma diferenciada entre as classes, contribuem para a melhora no perfil epidemiológico da população na contemporaneidade. No entanto, novos processos de adoecimento surgem e se agravam, agravos esses gerados muitas vezes pela intolerância aos diferentes, pela busca constante do destaque social e pela necessidade de sempre estarmos “felizes”. Nesses processos ganha destaque o uso exagerado de remédios, ou seja, a medicalização da vida que, deslocando as dores do campo social para o campo clínico, medicaliza inúmeras relações antes coerentes com as circunstâncias do dia a dia. Frente a isso, relatamos aqui uma experiência do projeto de “Medicalização, Judicialização e Táticas de Resistencia” realizado com o segundo ano do ensino fundamental da Escola Municipal Dr Joaquim Vicente de Castro em Londrina. Entendendo a importância do brincar, do lúdico, da arte na construção de relações mais saudáveis e a partir da demanda da escola sobre comportamentos inadequados, pratica do bullying e número expressivo de crianças com diagnóstico de TDH, traçamos o objetivo de contribuir para a reconstrução de relações mais saudáveis no espaço escolar. Desta forma, trabalhamos com músicas escolhidas pelas crianças, formando três grupos de acordo com a preferencia musical. As canções foram cantadas pelo grupo e iniciamos uma discussão sobre determinadas frases contidas nestas, visando à compreensão de que todas as coisas que são ditas tem alguma finalidade preestabelecida que pode ser ou não compreendida em sua essência, já que, com frequência, cantamos as musicas sem refletir sobre a mensagem que elas carregam. Tal diálogo foi resgatando sempre algum fato corriqueiro da vida dos alunos, como a palavras e atos que eles presenciam diariamente, estabelecendo correlação de que esses atos e palavras também estão carregados de significados e que devemos ter cautela ao nos referirmos a alguém em palavras ou ações. As crianças foram descrevendo inúmeras situações de angustia por palavras proferidas por colegas e professores e foi pactuado que essas palavras não seriam mais utilizadas. Nos encontros subsequentes, os alunos relataram que muitas vezes as “palavras e empurrões escaparam”, porém estava “mais legal” e “menos triste” conversar e brincar. A escolha da música como instrumento de aproximação ao cotidiano dos alunos foi realizada já que esta é parte de nossa cultura social, carregada de elementos e símbolos que dizem respeito à individualidade e, com isso, acreditamos que a adesão das crianças foi completa, demonstrando envolvimento em descobrir o que as musicas significam e como as palavras podem atingir os outros. Acreditamos que esse processo poderá realmente contribuir para relações mais saudáveis no espaço escolar, apesar de trata-se de uma experiência embrionária em processo de construção de novas significações nas relações escolares.