Associação da Rede Unida, Encontro Sul 2019

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Gestão Autônoma da Medicação em uma unidade básica de saúde do município de Apucarana-Paraná
Letícia Salgado Almeida

Última alteração: 2019-07-29

Resumo


Dentro de um contexto de saúde mental que prioriza a passividade do paciente e possui baixa resolutividade, o GAM (Gestão Autônoma da Medicação) é uma proposta de abordagem que visa, em primeiro lugar, incentivar o reconhecimento crítico da experiência com uso de psicofármacos pelo próprio usuário, instrumentalizando-o para o protagonismo de seu próprio cuidado. O GAM, em sua origem, veio como uma iniciativa de grupos de usuários do serviço de saúde mental do Canadá para ajudar através de um guia outros usuários em situação análoga, sobretudo no contexto de utilização de medicações recomendadas por terceiros e descontinuação de outras prescritas no serviço. No contexto brasileiro esse Guia GAM foi repensado entre 2009 e 2010, agora com demandas de pacientes deste território, sobretudo o maior diálogo sobre o tratamento. Atualmente, no Brasil, são utilizadas cartilhas formuladas por um grupo multidisciplinar de duas universidades (UNICAMP e UFRGS) as quais auxiliam tanto no processo dos moderadores quanto dos usuários do serviço. A metodologia que utilizaremos é a do Relato de Experiência acerca da inserção de um Grupo Gam no contexto de uma Unidade Saúde da Família localizada em Apucarana-Pr. Os atores que deram início a esse processo foram uma psicóloga residente da Residência Multiprofissional em Saúde da Família autogerida pela Autarquia Municipal de Saúde desse município, bem como o médico generalista do Programa Mais Médicos que atua nessa unidade. O objetivo desse relato é o de refletir acerca das percepções da inserção do grupo GAM nessa unidade. Para a viabilização do grupo, foi utilizado de convites impressos e distribuídos no balcão aos usuários que compareciam à unidade para renovação de receita de psicofármacos e entregue convite nos dispositivos sociais do território. Este encontro acontece quinzenalmente na UBS, e é de caráter aberto, primeiramente houve dificuldades de adesão, mas com quórum em todas reuniões. Foram abordados, até o presente momento, temas sobre o motivo e experiências do uso da medicação com pacientes, além de técnicas para entender a relação dos contextos sociais em que o mesmo está inserido, como se percebem,e o que pensam sobre sua saúde. Como resultados foi possível perceber que os usuários ali presentes em sua maioria não faziam nenhum outro tratamento, além do medicamentoso. Alguns possuem histórico de internações psiquiátricas, sintomas presentes mesmo com medicação e todos valorizaram esse espaço de fala, apoio e compartilhamento. O feedback foi positivo, podendo ser notado pela participação ativa deles no grupo. O grupo foi momento de fala para muitos que pareciam não serem ouvidos. Como considerações finais experimenta-se que o estigma de doenças psiquiátricas e pelo uso de psicofármacos, proveniente de um modelo antigo de saúde que ainda permeia a consciência dos pacientes mais antigos, é notável nos encontros; bem como o isolamento social resultante de tais estigmas. Se por um lado o GAM do Canadá foi criado por pacientes para ajudar outros pacientes, no contexto do Brasil, vem para dar local e recursos de fala para que os pacientes sintam-se incluídos, participantes e, sobretudo, protagonistas do seu próprio processo saúde-doença.

Palavras-chave: Saúde mental; Acolhimento; Autonomia pessoal.